Instituto Brasileiro de Museus

Museu da Abolição

Museu da Abolição e Museu da Parteira na 15ª Semana de Museus

Museu da Abolição traz Museu da Parteira na 15ª Semana de Museus

publicado: 03/05/2017 10h36, última modificação: 11/12/2017 18h18

No próximo dia 04, a partir das 15 horas, o Museu da Abolição apresenta a exposição “Museu da Parteira: Saberes e Práticas”, em parceria com parteiras da Associação das Parteiras de Jaboatão, Associação das Parteiras de Caruaru, Instituto Nômades, Grupo Curumim e Grupo de Pesquisa Narrativas do Nascer (do Departamento de Antropologia e Museologia da Universidade Federal de Pernambuco – DAM/UFPE). A mostra compõe a 15ª Semana de Museus do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), sob o tema “Museus e Histórias Controversas – dizer o indizível em museus” e fica no casarão até a última semana de julho.

O tema proposto aos museus pelo Ibram na Semana de Museus 2017 tem por objetivo dar visibilidade a histórias “anônimas”, pouco conhecidas ou, até mesmo, desconhecidas. Levando em consideração que os museus são espaços de construção e repasses de narrativas e memórias oficiais e das classes dominantes, a proposta é abrir espaço para memórias, saberes, práticas, narrativas das outras classes sociais, para que se apropriem da mesma estrutura e ganhem mais espaço de divulgação na sociedade.

Por tempos, foi recorrente nos museus a seleção e a guarda de objetos representativos das memórias das chamadas classes dominantes, ocasionando esquecimentos e uma lacuna no acervo de peças que expressam os feitos daqueles que a escrita oficial da História e a narrativa tradicional da Museologia optaram por silenciar. Como exemplo, podemos citar a recorrente escolha em expor peças representativas da riqueza e do “bom gosto” em detrimento de objetos utilizados pelas chamadas classes populares, mesmo quando ambos estão ligados ao tema da instituição. Assim, o museu, que é um espaço de legitimação e valorização sociocultural, elenca e discrimina ao mesmo tempo, produz vozes e silêncios e define o que será colocado à vista. Entretanto, ao se abrirem para o diálogo com grupos sociais ausentes das narrativas museológicas tradicionais, as instituições começam a repensar o que foi imposto como verdade única. Com isso, preconceitos são confrontados e outras possibilidades de narrativas são levantadas.

(IBRAM/15ª Semana de Museus)

A exposição “Museu da Parteira: Saberes e Práticas” apresenta objetos, documentos, fotografias e audiovisual dos saberes populares de parteiras tradicionais do estado de Pernambuco. Segundo os dados mais recentes do Sistema Informatizado de Cadastro de Parteiras Tradicionais (2011), elas estão em 71% dos municípios pernambucanos, com maior concentração na Zona Rural. O Museu da Parteira é um projeto das parteiras de Jaboatão e Caruaru junto com o Instituto Nômades, Grupo Curumim, Grupo de Pesquisa Narrativas do Nascer (DAM/UFPE) e do fotógrafo Eduardo Queiroga. O principal objetivo do museu é a propagação dos saberes e práticas destas mulheres que auxiliam milhares de crianças a nascer, nos dias atuais, atuando como alternativa ao parto hospitalar. Com esta exposição no MAB, o público será convidado a conhecer e dar opinião sobre o imaginado Museu da Parteira.

Foi levando tudo isso em consideração que a equipe técnica do MAB fez contato com Elaine Muller, uma das curadoras da exposição, e professora do DAM, para que o Museu da Parteira participasse das atividades da 15ª Semana de Museus. “A parceria iniciou com a identificação, pela equipe técnica do MAB, da exposição ‘Museu da Parteira: acolhimento, resistência, visibilidade’ que esteve em cartaz no MHNE e do desejo das parteiras para realizar uma exposição no MAB”, conta Maria Elisabete Arruda de Assis, diretora do MAb. Para montar a exposição, foi realizada uma oficina de expografia, nos dias 27 de abril e 02 de maio, que definiu o conceito; identificou e definiu os objetos e suportes; e viabilizou a montagem da exposição, em três salas de exposição temporária do MAB. O fato de muitas das parteiras serem negras e algumas delas utilizarem elementos das religiões de matriz africana, durante os cuidados com a gestante, o bebê e o próprio parto, foi fundamental para selar a parceria. Além disto, a expertise da equipe do MAB em trabalhar com exposições participativas, sob a perspectiva da museologia social, fundamentou a proposta para esta exposição, da qual se desdobrarão outras atividades de apoio para a construção de um espaço de memória deste grupo de mulheres.

 

Texto: Eduarda Nunes