O MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta, de 25 de fevereiro a 5 de junho de 2022, a exposição dedicada a Abdias Nascimento.
A exposição Abdias Nascimento: um artista panamefricano, conta com mais de 60 pinturas, documentos e fotografias originais, e está dividida em 7 núcleos: Teogonia afro-brasileira, Quilombismo, Deuses vivos, Germinal, Sankofa, Axé de esperança e Axé de sangue. Uma única exposição não poderia dar conta da imensidão de uma pessoa como Abdias: pintor, ativista, escritor, dramaturgo, deputado, ator, diretor de teatro, senador, poeta, jornalista, professor e indicado ao prêmio Nobel da Paz. Abdias atuou em papéis que marcaram o século XX e tornou-se uma personalidade fundamental para a história do país, sendo um dos fundadores da Frente Negra Brasileira (FNB), do Teatro Experimental do Negro e do Museu de Arte Negra. Sua primeira pintura encontra-se na exposição e data de 1968, no auge da Ditadura Civil-militar brasileira.
Exilado nos Estados Unidos durante a ditadura, seus trabalhos de artes visuais foram expostos na América do Norte, no Studio Museum em Harlem, Nova York; no Museum of Fine Arts, em Syracuse; e Crypt Gallery, da Universidade de Columbia, mas foi no Brasil, junto com Lélia Gonzalez, que Abdias deu suas grandes contribuições para a cultura e a política. Aliás, o subtítulo da exposição “um artista panamefricano”, trata justamente de evidenciar essa parceria. A antropóloga cunhou o termo “ladino amefricano” para se referir às culturas negras na América Latina, assim como Abdias, em sua vasta produção intelectual, cunhou o termo “quilombismo” que trata da construção de formas de vida da população negra fora da África baseada nas vivências de resistência, de uma produção estética e social próprias da população negra e sua organização política. Os documentos apresentados na mostra destacam também esse encontro de ideias e ideais com cartazes das candidaturas de Abdias e Lélia.
As pinturas expostas promovem cruzamentos poéticos e visuais entre conceitos, formas, cores e as experiências da população negra no Brasil. Religiosidade, ancestralidade, oralidade, luta e resistência são representadas por Abdias de forma magistral e tornam a visita à exposição imperdível.
Clique aqui para mais informações sobre o acesso à exposição na página do MASP.
Texto de Mirela Leite de Araújo, Museóloga e Diretora do Museu da Abolição.