O Projeto Selos MAB, lançado em 2016, tem o objetivo de associar a imagem institucional a temas diversos que estejam em evidência, provocando o público a refletir sobre questões relevantes no mundo contemporâneo. O projeto visa a confecção de um selo anual, cujo tema será trabalhado em todas as atividades do calendário do Museu, a fim de estabelecer conexões entre temáticas atuais e suas atividades finalísticas. Assim, a cada ano um selo/tema é alvo de ações, discussões, eventos e exposições. O intuito é, além de estabelecer conexões entre temas selecionados e ações e atividades do museu, ampliar redes de articulação e cooperação entre instituições públicas e privadas, movimentos sociais, religiosos e culturais.
Conexão, circularidade, ligação universal: tais palavras podem nos apresentar um conhecimento pluriversal do mundo. Esse conhecimento, compreendido através da cosmovisão e da cosmologia do continente africano foi deixado de herança às comunidades afro-brasileiras. “Órun” e “Aiyê”, para os Nagôs, e “Ixi” e “Riulu”, para os Bantus, são mais do que significações de Céu e Terra: elas representam o contato e o vínculo da matéria e da energia dos diversos seres para com a força substancial, responsável pela manutenção e harmonização do mundo, conhecida como “Asé” dentre os Nagôs e “Nguzu” dentre os Bantus.
Esses dois troncos linguísticos e comunitários (Nagô e Banto) conceberam a população negra no Brasil e, no que diz respeito às religiosidades de matrizes africanas, solidificaram uma nova maneira de ver e sentir o mundo. Do espaço físico da terra provém a energia vital, representada pela natureza e por seus elementos. Os Orixás e Nkisis conectam-se com esses dois mundos, pois pertencem a ambos. Juntos ao ser humano, que também faz parte dessa natureza, lembram da necessidade do respeito ancestral, da regência dos caminhos e da centelha espiritual e física que os representam.
Assim, o Projeto Selos 2020 do Museu da Abolição com o tema “Orún Aiyé” mergulha nas heranças ancestrais africanas em solo brasileiro. Através de objetos vindos do continente africano, ligados às raízes Banto e Nagô, e dos elementos ilustrativos, literários e religiosos, pretende-se recordar os aspectos primordiais da humanidade. Esses nos lembram sobre o quanto somos múltiplos, com diversas percepções de mundo, de histórias e de realidades, ainda que, por muitas vezes, desconhecidas.
Em função da pandemia de COVID-19 e a suspensão das atividades presenciais no Museu da Abolição a partir do mês de março de 2020, somada à realização de um obra de restauro e reforma que está requalificando todo o casarão e área externa do Museu, o tema do Projeto SELO 2020 será trabalhado até 2022, quando se espera que as obras estejam concluídas e seja lançada uma nova exposição de longa duração.